Ecoturismo
destinado a pessoas deficientes e
com
mobilidade reduzida
Daniel Borini Alves
Thaimon da Silva Socoloski
A
acessibilidade vem ocupando cada vez mais lugar de destaque nas discussões
acadêmicas, das mais variadas áreas científicas e implantada em projetos de
inclusão social, nos mais variados âmbitos. Neste contexto, observa-se que os
deficientes e as pessoas com mobilidade reduzida, que antes eram tratados
muitas vezes pela sociedade como inválidos e incapazes de desempenhar qualquer
atividade, condenados à isolação econômica e social, atualmente vem conquistando
cada vez mais seu espaço na sociedade e no mercado de trabalho (SASSAKI, 1997).
E
dentro dessa perspectiva, com o intuito de sair da rotina de trabalho e da
agitação dos grandes centros urbanos, este público busca, ao desfrutar de seus
momentos de lazer, atividades em meio à natureza, como por exemplo a atividade
de ecoturismo. O ecoturismo é uma das atividades turísticas que mais crescem no
Brasil e no mundo, dessa forma, faz-se necessário a adequação das suas
infraestruturas e de seus serviços para que o público com mobilidade reduzida e
com deficiência possa desfrutá-las (Figura
1).
Figura 1. Exemplo de uma
adaptação sendo realizada no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro,
visando à possibilidade de circulação de cadeirantes.
Fonte: Disponível em <http://parnatijuca.blogspot.com.br/2011/06/trilha-para-portadores-de-necessidades.html>.
Acesso em 04/10/2012.
Para
tanto, os turismólogos, os geógrafos, os arquitetos e outros profissionais que
discutem a atividade ecoturísca devem planejar o destino turístico e os
atrativos turísticos que ali se encontram com o intuito de adequá-los às
necessidades deste público, a fim de que possam desfrutar dos espaços
turísticos e não turísticos com autonomia e segurança, princípios básicos para
a ocorrência da acessibilidade. Para auxiliar tais profissionais neste
planejamento algumas leis e normativas devem ser consideradas, tal com a Lei de
Acessibilidade (Decreto 5296), criada em 2004 e a norma da ABNT NBR 9050 (2004),
que consideram as adequações físicas dos estabelecimentos, públicos ou
privados, e dos serviços prestados por eles.
Essas
leis e normativas estabelecem uma série de critérios que qualificam o
atendimento as necessidades desse público. Inclui-se uma série de elementos,
como por exemplo, as dimensões de banheiros acessíveis, o tipo de piso mais
adequados de acordo com diferentes deficiências e inclusive a preparação de
profissionais para o atendimento especializado (como a formação de
profissionais fluentes em LIBRAS). Para atividades de ecoturismo, muitas vezes
associadas a trilhas em meio a natureza, há uma série de fatores específicos,
como a dimensão e inclinação do terreno que devem ser consideradas.
O
Ministério do Turismo (2009, 2010) também vem trabalhando para a inserção da
acessibilidade nas atividades turísticas, produzindo materiais que esclarecem
especificidades necessárias para adaptação turística a essa público, não só em
relação à infraestrutura, mas também aos serviços que podem ser
disponibilizados. Produziu-se em 2009 o encarte “Turismo acessível: introdução
a uma viagem de inclusão” e em 2010 o “Caderno de Orientações Básicas de
Segmentos Turísticos – Ecoturismo: Orientações Básicas”, que são materiais
disponíveis (Figura 2) para que os
profissionais que trabalham com essas atividades possam ter algumas bases de
orientação para suas práticas.
Figura 2. Materiais organizados pelo Ministério do Turismo buscando orientar a acessibilidade nas atividades turísticas. A esquerda a capa do encarte “Turismo Acessível: Introdução a uma viagem de inclusão” (2009), e à direita a capa do material “Ecoturismo: Orientações Básicas” (2010).
Fonte: Disponíveis em: <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Cartilha-1Verde.pdf>
e <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Ecoturismo_Orientacoes_Basicas.pdf>.
Acesso em 04/10/2012.
Porém,
ao discutir-se adaptações em âmbito natural para a atividade ecoturísca
destinada a esse público, deve-se ter cuidado para que as alterações, que
geralmente exigem maior artificialização, sejam feitas respeitando a
resiliência do ambiente, priorizando a conservação ambiental a partir de um
plano de manejo adequado. Mas de qualquer maneira deve-se levar em conta que a
abertura desses espaços para a visitação é pensada no contexto de que a atividade
de ecoturismo pode promover a sensibilização desses turistas, podendo
contribuir para o processo de conservação dessas áreas sob novos olhares da
relação homem-natureza.
Exemplos de atividades de ecoturismo
acessíveis no Brasil
Busca-se
a partir de agora apresentar alguns exemplos representativos no âmbito nacional
que envolve atividades de ecoturismo acessíveis a pessoas deficientes e com
mobilidade reduzida
Um
exemplo representativo ocorre em uma série no município de Socorro/SP, onde o
Mistério do Turismo, em parceria com a Associação para Valorização de Pessoas
com Deficiência (AVAPE), realizou o projeto Sensibilização para o Turismo
Acessível. Por meio deste projeto foi possível mapear a acessibilidade
turística da cidade a fim de planejar a atividade turística com atendimento
adequado e profissional para este público.
Nessa
cidade realizaram-se uma série de projetos, tais como as obras de
acessibilidade no Portal Colonial, Portal Lions, no Mirante do Cristo, Centro
de Eventos, Horto Municipal, adaptações no Centro Histórico e Comercial e
implantação do conjunto de semáforos sonoros. Em uma recente matéria o programa
“Fantástico” apresentou-se um roteiro de ecoturismo associado a uma atividade de
turismo de aventura no Centro de Ecoturismo adaptado para pessoas com
deficiência, como demonstra o vídeo.
Alencar
(2012) apresenta análise de atividades de ecoturismo acessível em alguns
Parques no Estado de São Paulo. De acordo com a análise da autora, existem três
Parques acessíveis para atividades de ecoturismo: o Parque Estadual da Serra do
Mar – Núcleo Picinguaba; Parque Estadual do Jaraguá; Parque Estadual Caverna do
Diabo.
O
primeiro deles apresenta roteiros que envolvem populações tradicionais, com
quilombos, índios e caiçaras, além de uma vasta biodiversidade com espécies de
onças, antas e macacos. Como atrativos apresenta alguns atrativos como o Pico
do Corcovado e a Praia da Fazenda. O segundo, Parque Estadual do Jaraguá,
possibilita a realização de atividades interpretativas riquezas históricas e os
atrativos de fauna e flora preservados. No terceiro e último Parque analisado, o
Parque Estadual Caverna do Diabo, que integra o Mosaico de Unidades de
Conservação do Jacupiranga, sendo que a unidade possui rico ecossistema com
fauna e flora variadas, tendo como principal atrativo a Gruta da Tapagem, mais
conhecida como Caverna do Diabo (Figura
3), que atrai visitantes do mundo inteiro.
Figura 3. Visitante
cadeirante junto a Caverna do Diabo no Parque Estadual Caverna do Diabo.
Fonte: Disponível em: <http://www.revistacca.com.br/2012/05/ecoturismo-parques-acessiveis.html>.
Acesso em 04/10/2012.
É
relevante se destacar ainda aqui algumas referências interessantes de endereços
de sites disponíveis para leitura e informação relacionada a atividades de
turismo e acessibilidade como o blog “Cadeira Voadora” e o site “Turismo Adaptado”.
O blog é de autoria da cadeirante Laura Martins, que adora viajar e em algumas
de suas postagens relata essas viagens discutindo entre outras questões as
dificuldades dos roteiros em torno da acessibilidade. O site se refere a uma
iniciativa de um também cadeirante, bacharel em Turismo, que apresenta alguns
materiais e disponibiliza alguns serviços para pessoas com diferentes tipo de
deficiências.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações,
mobiliário espaços e equipamentos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
BRASIL.
Ministério do Turismo. Turismo Acessível: Introdução a uma Viagem de Inclusão.
v. 1. Brasília: Ministério do Turismo, 2009.
BRASIL.
Ministério do Turismo. Caderno de Orientações Básicas de Segmentos Turísticos –
Ecoturismo: Orientações Básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2010.
BRASIL.
Lei de Acessibilidade, Decreto-lei 5296 de 2 de dezembro de 2004, Publicado no
D.O.U, nº 232, sexta-feira, de 03 de dezembro de 2004.
SASSAKI,
R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, RJ: WVA,
1997.