sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Ecoturismo destinado a pessoas deficientes e
com mobilidade reduzida

Daniel Borini Alves
Thaimon da Silva Socoloski

A acessibilidade vem ocupando cada vez mais lugar de destaque nas discussões acadêmicas, das mais variadas áreas científicas e implantada em projetos de inclusão social, nos mais variados âmbitos. Neste contexto, observa-se que os deficientes e as pessoas com mobilidade reduzida, que antes eram tratados muitas vezes pela sociedade como inválidos e incapazes de desempenhar qualquer atividade, condenados à isolação econômica e social, atualmente vem conquistando cada vez mais seu espaço na sociedade e no mercado de trabalho (SASSAKI, 1997).
E dentro dessa perspectiva, com o intuito de sair da rotina de trabalho e da agitação dos grandes centros urbanos, este público busca, ao desfrutar de seus momentos de lazer, atividades em meio à natureza, como por exemplo a atividade de ecoturismo. O ecoturismo é uma das atividades turísticas que mais crescem no Brasil e no mundo, dessa forma, faz-se necessário a adequação das suas infraestruturas e de seus serviços para que o público com mobilidade reduzida e com deficiência possa desfrutá-las (Figura 1).



Figura 1. Exemplo de uma adaptação sendo realizada no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, visando à possibilidade de circulação de cadeirantes.
Fonte: Disponível em <http://parnatijuca.blogspot.com.br/2011/06/trilha-para-portadores-de-necessidades.html>. Acesso em 04/10/2012.

Para tanto, os turismólogos, os geógrafos, os arquitetos e outros profissionais que discutem a atividade ecoturísca devem planejar o destino turístico e os atrativos turísticos que ali se encontram com o intuito de adequá-los às necessidades deste público, a fim de que possam desfrutar dos espaços turísticos e não turísticos com autonomia e segurança, princípios básicos para a ocorrência da acessibilidade. Para auxiliar tais profissionais neste planejamento algumas leis e normativas devem ser consideradas, tal com a Lei de Acessibilidade (Decreto 5296), criada em 2004 e a norma da ABNT NBR 9050 (2004), que consideram as adequações físicas dos estabelecimentos, públicos ou privados, e dos serviços prestados por eles.
Essas leis e normativas estabelecem uma série de critérios que qualificam o atendimento as necessidades desse público. Inclui-se uma série de elementos, como por exemplo, as dimensões de banheiros acessíveis, o tipo de piso mais adequados de acordo com diferentes deficiências e inclusive a preparação de profissionais para o atendimento especializado (como a formação de profissionais fluentes em LIBRAS). Para atividades de ecoturismo, muitas vezes associadas a trilhas em meio a natureza, há uma série de fatores específicos, como a dimensão e inclinação do terreno que devem ser consideradas.
O Ministério do Turismo (2009, 2010) também vem trabalhando para a inserção da acessibilidade nas atividades turísticas, produzindo materiais que esclarecem especificidades necessárias para adaptação turística a essa público, não só em relação à infraestrutura, mas também aos serviços que podem ser disponibilizados. Produziu-se em 2009 o encarte “Turismo acessível: introdução a uma viagem de inclusão” e em 2010 o “Caderno de Orientações Básicas de Segmentos Turísticos – Ecoturismo: Orientações Básicas”, que são materiais disponíveis (Figura 2) para que os profissionais que trabalham com essas atividades possam ter algumas bases de orientação para suas práticas.


           
Figura 2. Materiais organizados pelo Ministério do Turismo buscando orientar a acessibilidade nas atividades turísticas. A esquerda a capa do encarte “Turismo Acessível: Introdução a uma viagem de inclusão” (2009), e à direita a capa do material “Ecoturismo: Orientações Básicas” (2010).
Fonte: Disponíveis em: <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Cartilha-1Verde.pdf> e <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Ecoturismo_Orientacoes_Basicas.pdf>. Acesso em 04/10/2012.


Porém, ao discutir-se adaptações em âmbito natural para a atividade ecoturísca destinada a esse público, deve-se ter cuidado para que as alterações, que geralmente exigem maior artificialização, sejam feitas respeitando a resiliência do ambiente, priorizando a conservação ambiental a partir de um plano de manejo adequado. Mas de qualquer maneira deve-se levar em conta que a abertura desses espaços para a visitação é pensada no contexto de que a atividade de ecoturismo pode promover a sensibilização desses turistas, podendo contribuir para o processo de conservação dessas áreas sob novos olhares da relação homem-natureza.

Exemplos de atividades de ecoturismo acessíveis no Brasil

Busca-se a partir de agora apresentar alguns exemplos representativos no âmbito nacional que envolve atividades de ecoturismo acessíveis a pessoas deficientes e com mobilidade reduzida
Um exemplo representativo ocorre em uma série no município de Socorro/SP, onde o Mistério do Turismo, em parceria com a Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (AVAPE), realizou o projeto Sensibilização para o Turismo Acessível. Por meio deste projeto foi possível mapear a acessibilidade turística da cidade a fim de planejar a atividade turística com atendimento adequado e profissional para este público.
Nessa cidade realizaram-se uma série de projetos, tais como as obras de acessibilidade no Portal Colonial, Portal Lions, no Mirante do Cristo, Centro de Eventos, Horto Municipal, adaptações no Centro Histórico e Comercial e implantação do conjunto de semáforos sonoros. Em uma recente matéria o programa “Fantástico” apresentou-se um roteiro de ecoturismo associado a uma atividade de turismo de aventura no Centro de Ecoturismo adaptado para pessoas com deficiência, como demonstra o vídeo.


Alencar (2012) apresenta análise de atividades de ecoturismo acessível em alguns Parques no Estado de São Paulo. De acordo com a análise da autora, existem três Parques acessíveis para atividades de ecoturismo: o Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba; Parque Estadual do Jaraguá; Parque Estadual Caverna do Diabo.
O primeiro deles apresenta roteiros que envolvem populações tradicionais, com quilombos, índios e caiçaras, além de uma vasta biodiversidade com espécies de onças, antas e macacos. Como atrativos apresenta alguns atrativos como o Pico do Corcovado e a Praia da Fazenda. O segundo, Parque Estadual do Jaraguá, possibilita a realização de atividades interpretativas riquezas históricas e os atrativos de fauna e flora preservados. No terceiro e último Parque analisado, o Parque Estadual Caverna do Diabo, que integra o Mosaico de Unidades de Conservação do Jacupiranga, sendo que a unidade possui rico ecossistema com fauna e flora variadas, tendo como principal atrativo a Gruta da Tapagem, mais conhecida como Caverna do Diabo (Figura 3), que atrai visitantes do mundo inteiro.


Figura 3. Visitante cadeirante junto a Caverna do Diabo no Parque Estadual Caverna do Diabo.
Fonte: Disponível em: <http://www.revistacca.com.br/2012/05/ecoturismo-parques-acessiveis.html>. Acesso em 04/10/2012.

É relevante se destacar ainda aqui algumas referências interessantes de endereços de sites disponíveis para leitura e informação relacionada a atividades de turismo e acessibilidade como o blog “Cadeira Voadora” e o site  “Turismo Adaptado”. O blog é de autoria da cadeirante Laura Martins, que adora viajar e em algumas de suas postagens relata essas viagens discutindo entre outras questões as dificuldades dos roteiros em torno da acessibilidade. O site se refere a uma iniciativa de um também cadeirante, bacharel em Turismo, que apresenta alguns materiais e disponibiliza alguns serviços para pessoas com diferentes tipo de deficiências.


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário espaços e equipamentos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo Acessível: Introdução a uma Viagem de Inclusão. v. 1. Brasília: Ministério do Turismo, 2009.

BRASIL. Ministério do Turismo. Caderno de Orientações Básicas de Segmentos Turísticos – Ecoturismo: Orientações Básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2010.

BRASIL. Lei de Acessibilidade, Decreto-lei 5296 de 2 de dezembro de 2004, Publicado no D.O.U, nº 232, sexta-feira, de 03 de dezembro de 2004.

SASSAKI, R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, RJ: WVA, 1997.

Um comentário:

  1. Parabéns a vocês pela postagem; está muito legal e permite que o leitor vá além, caso interesse. Só chamo a atenção para duas coisas; vocês usam repetidamente a palavra "deficientes", enquanto que a expressão mais correta é "pessoas com necessidades especiais". Também no início da postagem vocês colocam a palavra "isolação" querendo dizer "isolamento". Parabéns!

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